quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Algo sobre a historiografia feminina...

Este é o começo de um trabalho sobre Mulher do sertão que estou desenvolvendo em um dos grupos de gênero que faço parte (Lembranças e Narrativas da Mulher do Brasil Central, com a Prof ª Dra. Maria do Espirito Santo Rosa Cavalcanti).

Estou gostando muito de pesquisar sobre este tema, porque é uma maneira de quebrar o preconceito que tenho, enquanto aluna, sobre os assuntos culturais e ainda aprender mais sobre o assunto...

Segue:


“ Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter também o de subir à tribuna.” (Olympe de Gouges)

Introdução:

Vários fatores possibilitam hoje o interesse pelos estudos de gênero na iconografia cientifica. Ainda do século XIX as concepções sobre a figura feminina ainda tratavam a mulher como um ser inferior, dependente e submisso. De acordo com Londa Schiebinger, todos estes adjetivos acabaram por afastar a ciência e seus objetos dos estudos sobre o gênero. Mas não por muito tempo, já que na metade do século as pioneiras do feminismo começaram a questionar a formação educacional que era oferecida para as mulheres. Apesar de já poderem freqüentar as instituições de ensino as ementas direcionadas aos grupos escolares para as mulheres tinham a intenção de reforçar alguns conceitos, como o de “santificar a missão feminina na terra”, “vocação materna” ou ainda “responsável pelos ofícios domésticos”.
Alguns estudos, como por exemplo do historiador Thiago Santanna,citam a participação feminina nas ações abolicionistas goianienses, onde ele cataloga as experiências acerca do envolvimento das mulheres nestes episódios , procurando desmitificar os papéis que sempre são atribuídos ao gênero. Outros autores, como a historiadora Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcanti, trabalham as memórias, que compõe o universo feminino do sertão, com recortes culturais específicos. Estas investigações sempre intentam legitimar e mostrar a relevância social que um estudo sobre o tema pode contribuir para o reconhecimento e o resgate da ação dessas sertanejas no país.
Apesar dos movimentos que eclodiam em determinadas partes do país para a emancipação intelectual da mulher, a sociedade do sertão do Brasil Central ainda mostrava resistência para aceitar o voto feminino, por exemplo. O vinculo religioso que mantinha a maioria dos colégios da época, e que ofereciam aulas para as mulheres, davam maior atenção ao preparo da reprodução, aos cuidados com a postura diante das exigências sociais que as cercavam e ainda ensinavam como elas deveriam cuidar dos alimentos direcionados a elas e aos filhos. Todos estes fatores mantinham o equilíbrio entre as expectativas masculinas, socializadas e enraizadas nas gerações anteriores e de acordo com Martha Robhes afligidos pela obsessão de mantenedores e concentrando –se em apenas tarefas práticas, tornando a mulher, cada vez mais afastada da participação financeira da família. O papel feminino dentro da instituição ,casamento, não era o de transformar a realidade em que vivia e sim, manter sua família unida, alimentada e educada (com os recursos patriarcais).
Como ouvir estas vozes ressonantes, que buscaram a diferença nesta realidade do Brasil Sertanejo em Goiás e no que elas imaginavam que seria uma vida mais digna?
Tentando responder estas questões que este trabalho é baseado , também em oralidades, em documentos pessoais, em alguns lugares onde a História ainda não foi para registrar o que teriam dito estas mulheres se questionadas em seu tempo.
A identidade da mulher no sertão goiano foi construída a custo destas memórias femininas, submissas ou não, políticas ou não, mães ou não. Mesmo porque, de acordo com Pollak,(1992,p.204) “A noção de identidade é construída como um fenômeno que se produz em referencia aos critérios de aceitabilidade, de credibilidade, até de admissibilidade, e que se faz por meio de negociação direta com os outros. Memória e identidade podem ser perfeitamente negociadas,e não são fenômenos que devam ser compreendido como essências de uma pessoa ou de um grupo”
Mesmo sem resultados definitivos, já que oralidades partem de falhas no tempo e memórias subjetivas, não há como negar que graças à intuição amorosa da mulher, desde muito tempo, governava disfarçadamente a ordem presente e futura de sua comunidade. A catalogação e a interpretação das narrativas femininas do começo do século XX nos permitirá descobrir como é que este “governo” se dava.


Autoria: Shirlei Romano
curriculo lattes: http://lattes.cnpq.br/0578442779563045