terça-feira, 22 de setembro de 2009

Oaxaca: Uma comuna do século XXI


Oaxaca: Uma comuna do século XXI[1]



Oaxaca é um Estado do México um pouco menor que Pernambuco com 3 milhões de habitantes, destaca-se como o segundo Estado mais pobre do país.Sua capital –é considerada a mais bela cidade colonial do país têm 600 mil habitantes. Com quase metade da população recebendo menos do que um salário mínimo, o que mais revela a pobreza deste Estado é a falta de interesse das elites burguesas mexicanas.

Dentro do movimento sindical mexicano, existe muita burocracia e de acordo com Gilson Dantas[2], este movimento é conhecido pela sua corrupção e métodos gangsteristas e ainda por manter estreitas ligações com o PRI[3] ,o que por si só descaracteriza o envolvimento de uma luta anti a ordem estabelecida.

A estrutura da Comuna de Oaxaca ,teve inicio com a insatisfação salarial dos professores (que recebem salários baixíssimos) e dentro da sociedade daquele estado, são os que recebem mais, ou os que têm mais estabilidade profissional (só para termos uma idéia da pobreza da região). Todos os anos, esta classe de trabalhadores sai nas ruas e pleiteia melhores condições de trabalho, e como sempre acontece o governo respondeu com migalhas e ainda acrescentou uma violenta repressão. Dentro deste contexto os professores se declaram em greve.

Esta paralisação durou de maio a junho e os manifestantes agiram com bloqueios as principais rodovias de acesso à cidade e um grande piquete permanente de apoio na praça central da capital. Em junho eles foram retirados a força da praça central (neste ponto é importante ressaltar a brutalidade da policia mexicana), mas mesmo com este revide os manifestantes voltaram aos milhares e agora como apoio popular.

Não é difícil imaginar porque houve tanta adesão as manifestações de Oaxaca, ora, uma população que vivia a beira da miséria, e passava toda sorte de necessidades enquanto via seus esforços sendo massacrados por uma forte repressão, de décadas só podia guardar muitas mágoas. A oportunidade de externar isto através de uma manifestação de cunho popular, como era o propósito do magistério da cidade foi muito bem acolhida pela população de revoltosos.

Como a negociação estava cada vez mais difícil os manifestantes resolveram se organizar em uma Associação chamada APPO( Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca) e seu principal objetivo era a renúncia do governador do Estado, que na visão dos manifestantes era o responsável por anos de opressão e misérias. A Assembléia “funcionou como um organismo único frente às massas populares de ampla base social e de luta,baseado na categoria dos trabalhadores da educação,tomando as suas decisões com base em assembléia[4]. A partir da organização da APPO, várias manifestações coordenadas apareceram por todo o país, e durante o seu auge que durou de junho a novembro de 2006, contou com 200 representantes de diversos movimentos. Como por exemplo: grupos de mulheres,sindicatos,redes de direitos humanos, ambientalistas, organizações camponesas,indígenas,estudantes e comunidades de base da Igreja .

Segue tópicos dos principais feitos a partir da Assembléia:

  • Vários setores da população explorada saíram às ruas, obrigando a policia a se recolher de volta aos quartéis.
  • Meio ano de lutas e greves populares e com mega marchas que chegaram a ter de 300 a 500 mil participantes.
  • Edifícios públicos foram ocupados,inclusive em vários municípios de Oaxaca.
  • Programas de rádio passaram a ser transmitidos sob controle dos professores, divulgando a luta e coordenando o movimento
  • Ocupação de canais de TV, o que possibilitou a geração do noticiário próprio dos manifestantes, sem a interferência e imparcialidade da grande mídia, mobilizando movimentos culturais e sociais.
  • Barricadas com plantões todas as noites para garantir seu “toque de recolher” e sua “força policial” própria, além de um guarda móvel encarregado da ordem publica e da contenção da hostilidade do governo
  • Implantação de um governo alternativo com controle territorial importante e ampla base de massa.

Suas principais reivindicações eram:

· Construção de órgãos de massas democráticos e de luta.

· Organismo popular pré-soviético do tipo Comuna[5]

A repressão ao movimento foi intensa, inclusive com o assassinato de 23 manifestantes, (logo no inicio da revolta) detenção de outras centenas e na retirada de algumas dezenas. Muitas mulheres que participaram do movimento foram violentadas, nas barricadas noturnas, e as mortes passaram a ser rotina dentro da resistência.

Até os dias atuais, muitos lideres da rebelião estão em cárcere de segurança máxima, com acusação de provocar a desordem publica, além dos testemunhos contarem centenas de desaparecidos. Dentro de todo este caos, a posição do governo do México foi a de não afastar o governador de Oaxaca e ao mesmo tempo debilitar a Comuna, interna e externamente, enviando tropas federais onde poderiam encontrar pontos de manifestação e ao Campus da Universidade (principal foco de resistência dos manifestantes e onde formavam suas maiores barricadas e vinculavam o principal meio de comunicação da rebelião através da Radio Universitária).

“Uma parte da força da APPO convocava a unidade do movimento para o retorno às aulas e para o abandono das barricadas, numa fase em que o movimento mantinha sua força,ao mesmo tempo em que o governo não cedia e simultaneamente,assassinava”[6]


[1] Titulo do artigo do Professor Gilson Dantas

[2] Gilson Dantas é doutor em Sociologia pela UNB

[3] Partido Revolucionário Institucional Mexicano, ligado ao governo ditador que esta a frente da política de Oaxaca à 77 anos.

[4] Trecho da revista Antítese n° 4/outubro de 2007-Artigo de Gilson Dantas

[5] Os sovietes ou conselhos são órgãos amplos,democráticos (democracia direta) e de combate de massas,fundados na classe trabalhadora.Costumam surgir em todo processo revolucionário profundo e se constituíram com o partido de Lênin e Trosty, na base essencial da tomada do poder na Rússia de 1917.

[6] Trecho da revista Antítese n° 4/outubro de 2007-Artigo de Gilson Dantas

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